domingo, 12 de abril de 2009

Adventista do sétimo dia

Adventismo

OBRAS DE ELLEN WHITE: INSPIRADAS POR DEUS OU EM OBRAS ALHEIAS?

Por Alessandro Lima


Introdução

A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) faz proselitismo dizendo que os escritos da Sra. Ellen White (fundadora desta denominação protestante) foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo. Estas obras no adventismo são o fundamento de sua doutrina e chave para sua interpretação e hermenêutica das Sagradas Escrituras. Entretanto, estudos recentes mostraram que as obras da Sra. Ellen White são fruto de plágio: não do Espírito Santo, mas de obras de outros autores.



Um pastor adventista descobre o segredo White

Há um ditado popular que diz: “mentira tem perna curta”. E isto se cumpriu fielmente quando em 1982, Walter T. Rea, ex-pastor adventista publica nos EUA a obra “The White Lie” (A Mentira White ou A Mentira Branca).

Sr. Rea se converteu ao Adventismo ainda muito jovem, como confessa em sua obra: “Desde a primeira vez que ouvi falar dela, no princípio de minha adolescência, converti-me em devoto de Ellen G. White e de seus escritos” (1, Introdução). Foi “pastor” na IASD onde inicialmente exerceu seu “ministério” no estado americano da Califórnia.

Já em Orlando na Flórida, trabalha na Kress Memorial Church (Igreja em Memória dos Kress). Foi nesta época que “por acaso” ele recebe um inusitado presente de um casal adventista amigo seu:

A família Kress me presenteou com um antigo livro de Ellen White, Sketches From The Life of Paul, publicado em 1883, mas que nunca foi reimpresso. Quando um dia mostrei este livro a um membro da igreja, disse-me que o problema do livro era que se parecia demasiado a outro que não tinha sido escrito por Ellen White, e que nunca tinha sido reimpresso por causa da estreita similitude entre os dois. Sendo de mente inquisitiva, fiz um estudo comparativo e descobri que algumas das críticas pareciam ser verdadeiras” (ibidem).

Em sua interessante obra o Sr. Rea conta como foi descobrindo que as obras da pseudo-profetisa do Adventismo, não passavam de plágios grosseiros e sem qualquer menção aos autores originais.

Um caso interessante envolve o maior best seller da Sra. Ellen White, o livro “O Grande Conflito”, veja aqui http://tempodofim.tripod.com/EGWGravura.htm.

Depois desta triste constatação, o “pastor” Walter T. Rea abandona a IASD.



O Veltman Report

Depois das denúncias do ex-pastor adventista Walter T. Rea, os dirigentes da IASD pressionados pela mídia e pelos fiéis resolveram empreender um dossiê sobre o caso. Para o trabalho contrataram o Dr. Fred Veltman PhD, membro da IASD, que em 1980 era diretor do departamento de religião do Pacific Union College.


O Veltman Report (como ficou conhecido o relatório final deste trabalho) custou à Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia cerca de meio milhão de dólares e 8 anos de trabalho da equipe do Dr. Veltman. O relatório final conclui que mais de 30% do “Desejado de Todas as Nações” foi copiado de outros autores (incluindo até romances de ficção). O mesmo se encontra disponível no site oficial da IASD (1).


Foto do Veltman Report tirada por Ennis Meier na sede da IASD nos EUA. Depois de ler todo o relatório deixou de acreditar o profetismo de Ellen White.


Desde então tornou-se no Brasil uma das principais vozes contra as enganações da Administração da IASD.

Em Novembro de 1990, o parecer do Dr. Veltman é publicado na Revista Ministry (3) (Revista oficial para pastores da Conferência Geral em Silver Spring, MD. USA). Deste parecer destacamos as seguintes palavras:

"A maior parte do conteúdo do comentário de Ellen White sobre a vida e o ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é derivado, antes que original Em termos práticos, esta conclusão declara que não se pode reconhecer nos escritos de Ellen White sobre a vida de Cristo nenhuma categoria geral de conteúdo ou catálogo de idéias que sejam somente dela". (Pág. 12).


Sala onde o Veltman Report e guardado na sede da IASD nos EUA.

"Eu tenho que admitir para começar, que no meu julgamento esse é o mais sério problema para enfrentar com referência à dependência literária de Ellen White. Isso atinge o coração da sua honestidade, sua integridade e portanto da sua honradez" (pg. 14).

Segundo o Dr. Veltman, a Sra. Ellen White empregou um mínimo de 23 fontes de vários tipos de literatura, inclusive ficção, em seus escritos sobre a vida e natureza de Cristo (4). E acrescenta:

"Na verdade, não há meios de saber quantas fontes [exatamente] estão representadas na obra de Ellen White sobre a vida de Cristo". (Op. Cit., pág. 13).


Antes que alguém pense que a IASD foi muito boazinha em permitir o estudo do caso, saibam que todos estes problemas já lhe eram conhecidos, porém escondidos de seus fiéis. Esta também foi mais uma triste constatação do Sr. Walter T. Rea durante suas pesquisas.

A Sra. Ellen White sempre alegou que suas obras eram frutos de revelações de Deus. Entretanto, seus livros, além do empréstimo indevido de outros autores, eram sempre revisados, corrigidos e interpolados por suas auxiliares, como as Sras. Marian Davis e Francis Bolton. Suspeita-se até que a obra “Caminho a Cristo” tenha sido escrita em sua totalidade por Francis Bolton. Será mesmo que uma Revelação Divina precisa de tanta revisão humana?



Conclusão

Nos EUA tem havido uma grande debandada de fiéis da IASD por conta destas constatações. Alguns outros continuam adventistas, só não mais ligados à IASD. Com efeito, nossa Fé é algo que nos é muito caro, por isso abandoná-la por qualquer motivo é um ato muito difícil. Quando se professa uma falsa religião, isso é ainda mais complicado já que nestes casos a vontade age de forma ilegítima sobre a inteligência, esta que viu a Verdade, mas que não consegue lhe dar assentimento por causa daquela.


Em outras oportunidades vimos denunciando dos embustes presentes na doutrina adventista contra o Catolicismo. A mentira da IASD para seus fiéis é um escânda-lo que revela a quem ela realmente serve: ao Pai da Mentira, Satanás.

Fica aqui a minha denúncia e o meu apelo aos cristãos adventistas, para que deixem esta seita perniciosa (fundada para justificar o falso profetismo do Sr. Guilherme Miller) e que ingressem enquanto há tempo na Única e Verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: a Igreja Católica.



Notas

(1) REA, Walter R. The White Lie. Disponível em http://www.ellenwhite.org/egw17.htm. Último acesso em 23/05/2007.

(2) VELTMAN, Fred. General Conference - Office of Archives & Statistic: Veltman Report. Disponível em http://www.adventistarchives.org/documents.asp?CatID=13&SortBy=1&ShowDateOrder=True. Ùltimo acesso em 23/05/2007.

(3) http://www.adventistas-bereanos.com.br/imagens/revistaministry1990.jpg.

(4) http://www.alvorada.us/0049.htm.


Leitura Complementar

VELTMAN, Fred. The Ellen White Research Project: The Desire Of Ages Projetc. Disponível em http://www.ellenwhite.org/egw40.htm. Ùltimo acesso 23/05/2006.

Truth or Fabel Web Site: Exposing Seventh-day Adventist Fable. Disponível em http://www.truthorfables.com/Desire_of_Ages_Veltman.htm. Ùltimo acesso 23/05/2006.

Veltman Report. Adventistas Bereanos Website. Disponível em http://www.adventistas-bereanos.com.br/2007abril/thewhitelie.htm. Último acesso em 23/05/2006.





Para citar este artigo:

LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: OBRAS DE ELLEN WHITE: INSPIRADAS POR DEUS OU EM OBRAS ALHEIAS?.

Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4283

. Desde 5/25/2007.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

INQUISIÇÃO EVANGÉLICA ou PROTESTANTE

A INQUISIÇÃO PROTESTANTE ou EVANGÉLICA


– Artigo do Veritatis Splendor

Por d. Estêvão Bettencourt

Fonte: PR 500, fev/2004, pp. 50-62


Pouco se escreve a respeito:

A INQUISIÇÃO PROTESTANTE


Em síntese: Muito se tem escrito sobre a Inquisição da Igreja Católica, menos, porém, sobre a Inquisição movida por Calvino e os Calvinistas e pela rainha Isabel Tudor na Inglaterra. As páginas seguin­tes referem algo a respeito.

* * *

É muito comentada a Inquisição dirigida pela Igreja Católica na Idade Média e na época moderna em Espanha e Portugal. - Sem querer negar os erros cometidos, deve-se dizer que muitos falam e escrevem a respeito sem exato conhecimento de causa, movidos por preconceitos e paixões. Tal é o caso da notícia que vai, a seguir, transcrita (difundida via internet).


"'IGREJA CATÓLICA ROMANA', A ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA MAIS SANGUINÁRIA E FRAUDULENTA QUE O MUNDO JÁ CONHECEU"


Os grandes conhecedores da história asseveram que a Roma pa­pal derramou muito mais sangue que a Roma pagã. Quem quiser é só conferir os atos praticados pela Igreja Católica Romana durante a cha­mada 'Santa Inquisição'! Iniciada, em 1163 pelo papa Alexandre III, que no Concílio de Tours, na França, ordenou que o clero procurasse todos os opositores da idolatria romana para processá-los e levá-los a julga­mento.

Em 1253 o papa Inocêncio IV, autorizou a prática de todos os tipos de torturas contra os protestantes opositores aos ensinamentos antibíblicos da 'igreja' católica romana.


Inácio de Loiola foi um dos maiores assassinos que o sol já cobriu, mas foi canonizado 'santo' por tais serviços prestados a essa igreja cató­lica romana, que ainda hoje omite a verdade!


Pessoas que não concordavam com o grande comércio religioso e fraudulento da igreja católica romana, eram tidas como hereges. O papa Inocêncio IV convocou sacerdotes, reis e pessoas da sociedade a uni­rem-se em guerra a essas pessoas. Prometendo remissão de pecados a quem levasse um herege à morte, a autorização papal declarava que as pessoas seriam torturadas e mortas e suas propriedades confiscadas. A igreja católica romana, através dos reis, sacerdotes e autoridades civis e militares, usou os mais cruéis métodos de tortura para assassinarem os que não concordavam com suas mentiras religiosas. Famílias inteiras foram destruídas, filhos sendo assassinados diante dos pais, mulheres sendo estupradas e mortas diante de seus esposos, esposos que passa­vam dias e dias amarrados sob os piores castigos e depois dilacerados".

Abstração feita dos erros de português, este texto, violento como é, sugere algumas ponderações:

1) Afirma coisas graves sem indicar fonte alguma. Carece assim de seriedade e valor científicos.


2) O autor comete flagrante anacronismo ao afirmar que "em 1253 havia protestantes opositores à Igreja Católica. Na verdade, o protestan­tismo não existia no século XIII, já que foi fundado no século XVI.


3) A aplicação da tortura e da pena de morte era muito mais rara do que dá a entender o autor da notícia. Este apresenta cenas horrendas ("filhos assassinados diante dos pais, mulheres estupradas e mortas di­ante de seus esposos..."), cenas que a imaginação preconceituosa con­cebe, mas que a historiografia científica não abona, como se pode dedu­zir do Apêndice a este artigo.


4) S. Inácio de Loiola foi em juventude um cavaleiro que se dedicou a exercícios e torneios próprios da arte militar. Passou ao serviço do vice-rei de Navarra: combateu os franceses em defesa do castelo de Pamplona, onde foi ferido nas pernas por uma bala de canhão. Foi portanto um mi­litar militante, mas não um assassino.


5) Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado do vizi­nho, diz o adágio popular. O protestantismo, que acusa a Igreja Católica, teve também sua Inquisição, da qual pouco se fala, mas que, a bem da verdade, merece ser conhecida. A respeito será dito algo nas páginas seguintes não pelo falso prazer de narrar desgraças, mas para mostrar que a Inquisição foi praticada também por aqueles que a lançam em rosto à Igreja Católica.

1. Em Genebra: João Calvino (1509-64)

Nasceu João Calvino em Noyon (França). Fez seus estudos humanísticos e jurídicos em Paris, onde teve contato com elementos protestantes. Em 1533 adotou o protestantismo numa "conversão repen­tina", como ele mesmo a designa. Visto que o governo francês perseguia os protestantes, Calvino emigrou para Basileia (Suíça) em 1534. Pas­sando certa vez por Genebra, foi convidado por Farei para aí ficar. Calvino aceitou o convite e recebeu o encargo de pregar e implantar em sua nova sede a doutrina protestante - missão esta que ele assumiu com grande energia, impondo severa disciplina a todos os cidadãos. Teve que en­frentar a resistência de vários opositores, mas firmemente venceu-os e governou Genebra.

O principal órgão administrativo de Calvino era o Consistório, com­posto por pregadores e anciãos, aos quais competia vigiar pela pureza da fé, inquirir os suspeitos de defecção e julgá-los. As consequências da atividade de tal instituição vêm assim descritas por Bihlmayer-Tuechle em sua "História da Igreja", vol. 3, pp. 74s:

"Com o objetivo de controle, faziam-se várias vezes no ano visitas a domicílio e conforme o caso recorria-se também às denúncias e à espi­onagem paga. Os transgressores eram colhidos pela admoestação, de-ploração e excomunhão (exclusão da ceia sagrada) e obrigados a fazer penitência pública. Os grandes pecadores, como os sacrílegos, os adúl­teros e os adversários obstinados da nova fé, eram entregues ao Conse­lho da cidade para o castigo. Foram pronunciadas muitas condenações à morte (58, até 1546) e mais ainda ao exílio. A tortura foi usada da forma mais rigorosa. A cidade teve que submeter-se, embora a contragosto, à disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram, exceto os domingos. O culto foi reduzido à pregação, à oração e ao canto dos salmos; quatro vezes por ano era distribuída à comunidade a sagra­da ceia, com pão e vinho ordinário. A vida da sociedade genebrina adqui­riu o teor de uma seriedade taciturna; as vestes de luxo, os bailes, o jogo de cartas, o teatro e divertimentos semelhantes eram severamente con­denados.

Naturalmente a 'teocracia' instaurada por Calvino com tanta ha­bilidade e energia não persistia sem adversários. Os velhos fautores da liberdade (libertins) e a alegre aristocracia genebrina julgaram por demais opressor o jugo religioso; mas ele os reduziu ao silêncio medi­ante duras punições. Outras dificuldades foram suscitadas contra a sua teologia, mas soube dominá-las todas. O médico Jerônimo Bolsec, monge carmelita apóstata, proveniente de Paris, que ousara sublevar-se contra a doutrina de Calvino sobre a predestinação, foi exilado em 1551; o humanista e médico espanhol, Miguel Servet, que Calvino ti­nha denunciado antecedentemente à inquisição de Lião, foi queimado vivo em 27 de outubro de 1553, por ter negado o dogma da SS. Trindade1. Em 1555, Calvino havia conquistado a vitória sobre todos os seus inimigos. Nenhum pôde mais abalar-lhe a posição de ditador re­ligioso, e em certo sentido também político, na sua "Roma protestan­te", onde afluíam os emigrados protestantes da França, da Itália e da Inglaterra. Então as ordonnances foram atuadas plenamente e ao mesmo tempo aperfeiçoadas".


Eis alguns episódios particulares:


1) Ami Perrin


Ami Perrin era capitão-geral da cidade de Genebra e genro de Fran­cisco Favre, família importante, alegre e ciosa de sua autonomia naquela sociedade. Por ocasião de um casamento, tal família deu um baile. Sa­bedor disto, o Consistório abriu um inquérito e convocou dançarinos e dançarinas; estes compareceram perante a autoridade e deram dos fa­tos uma versão falsa, exceto Ami Perrin. Calvino então censurou, com veemência a dança, jurando punir os culpados. Furiosa, gritou-lhe: a mulher de Perrin, Franchequine:

"Homem perverso, queres beber o sangue da nossa família, mas sairás de Genebra antes de nós".

O litígio agitou a cidade inteira por muito tempo. Enquanto o capi­tão Perrin tentava apaziguar os ânimos, a sua esposa fazia o contrário, pois continuava a dançar. Chamada a comparecer novamente perante o Consistório, interpelou o ministro Abel Poupin como Gros pouacre (tra­tamento fortemente injurioso na linguagem da época), em consequência do que foi encarcerada. A opinião pública se abalou contra Calvino. Este, enraivecido, mandou fazer uma perquisição na casa de Jacques Gruet, amigo da família Favre; aí foram encontrados os rascunhos de um cartaz agressivo poucos dias antes afixado na cidade; em seus apontamentos íntimos Gruet escarnecia a Bíblia e o Cristianismo, em vista disto, Gruet foi logo preso, julgado e condenado a ser decapitado, ficando seu corpo exposto ao público aos 26 de julho de 1547.


2) Pierre Ameaux

Pierre Ameaux era fabricante de cartas de baralho. O rigor do puri-tanismo calvinista fazia-o perder clientes, pois a população tinha medo de jogar. Proferiu então injúrias públicas contra Calvino - o que lhe valeu ser preso e encarcerado. Aos 8 de abril de 1546 o tribunal pronunciou sobre ele a sentença: deveria dar a volta da cidade vestido de camisola, com a cabeça coberta e uma tocha acesa na mão; feito isto, haveria de comparecer perante o tribunal e de joelhos daria graças a Deus e à Jus­tiça, confessando ter falado indevidamente.

É de notar que Pierre Ameaux era membro do Conselho Menor e gozava do respeito da população.


3) Os papistas

Visando atingir qualquer indivíduo que ferisse a honra de Deus, o Consistório tinha funcionários inspecionando a cidade de Genebra e seus arredores. Cada qual devia semanalmente levar ao tribunal a relação dos feitos que julgasse merecedores de punição: jogo de damas ou simi­lar, refeição mais copiosa do que de costume, consumo de vinho num botequim, faltar às prédicas, ceder às "superstições papistas"...

Calvino, sentindo a repulsa da opinião pública, exclamou: "A raiva e a fúria contra mim chegaram a tal ponto que tudo o que digo suscita suspeitas. Ainda que eu afirmasse ser dia claro ao meio-dia, começariam logo a duvidar".

São estes alguns traços da Inquisição calvinista em Genebra. Ve­jamos agora:


2. Fora de Genebra: o Calvinismo


Passaremos em revista a Suíça e a Holanda.


1) Na Suíça

Na Suíça o Caivinismo absorveu as ideias e os seguidores do reformador Zvinglio de Zurique. Propagou-se destruindo monumentos artísticos dos católicos. Dentre os mártires seja citado São Fidelis de Sigmaringen (1577-1622). Este Santo foi advogado e muito trabalhou em favor dos pobres. Fez-se frade capuchinho e foi enviado para a região de Rezia, onde a população se tornara, em grande parte, calvinista. O êxito de sua pregação provocou a hostilidade dos calvinistas; estes, fingindo querer converter-se à fé católica, convidaram-no para pregar em Gruesch. Mal subira ao púlpito da igreja local, quando avistou um cartaz preso à parede com os dizeres: "Esta é a tua última predica".

Quando começou a pregar, foi contra ele desferido um tiro, que errou o alvo. Frei Fidelis conti­nuou intrépido e, ao terminar, dirigiu-se para a porta da igreja; ali cercou-o um bando de homens que o trucidaram a golpes de punhal e barras de ferro, chegando a amputar-lhe a perna esquerda.


2) Na Holanda

A Alemanha, fiel ao luteranismo, rejeitou o calvinismo, que passou então para a Holada com grande veemência. Escreve um historiador pro­testante:

"Os calvinistas (queux) eram os mais abomináveis piratas de todos os tempos... A sua cupidez era sem igual. Queriam fazer ressoar em toda parte o seu grito de guerra: 'A palavra de Deus segundo Calvino!'Saque­avam igrejas e conventos e infligiam aos Religiosos um trato tal que pou­cos paralelos se encontram na história dos povos" (Kervin de Lettenhove, Lês Huguenots et lês Gueux, tomo II Bruges, p. 408).

As igrejas católicas eram saqueadas e os sagrados valores profa­nados.

Ao ver um monge cartuxo sendo levado ao suplício, perguntou uma mulher: "Que mal fez esse homem?", respondeu o carrasco com furor: "É um monge, um papista".

Ao devastarem o mosteiro de Tene Rugge, os invasores encontra­ram um ancião que não conseguira fugir. Intimaram-no a exclamar: "Vi­vam os calvinistas!"; tendo-o recusado, foi condenado ao massacre; an­tes de lhe tirarem a vida, amputaram-lhe as orelhas, sendo uma afixada à porta da cidade, e a outra à porta da igreja.

Alguns dias mais tarde, prenderam e mataram o pároco Henrique Bogaart, de Hellevoetsluis, após ter-lhe amputado mãos e pés.

Caiu nas mãos dos algozes um sacerdote chamado Vicente, de 85 anos de idade; meteram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, e puse­ram-lhe no ombro uma cruz confeccionada às pressas, após o quê atre­laram o padre a uma carroça para que a puxasse; tendo assim tratado o ancião, deram-lhe o golpe mortal.

Em Brielle foram presos alguns clérigos e leigos; um daqueles - o cónego Bervout Hanszoon - recusou ceder alojamento à concubina de um dos carrascos, que era um católico apóstata; por causa disto mais candente se tornou a sanha dos adversários. Sem processo prévio, foi condenado à morte: atiraram-no num poço cheio de lama, onde perma­neceu algumas horas em luta contra a morte, que finalmente prevaleceu. Do mesmo modo foram executados três outros sacerdotes.

Em suma, ao invadirem a cidade de Brielle, os calvinistas decapita­ram ou queimaram vivos 84 sacerdotes; 19 outros morreram por ocasião da tortura.

Não se pode deixar de mencionar, à guisa de complemento, o mar­tírio dos católicos do Rio Grande do Norte por obra dos índios instigados pêlos calvinistas holandeses em 1645: o primeiro grupo, contando setenta pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da vila de Cunhaú. O segundo grupo em Uruaçu.

Por conseguinte não resta dúvida: o Calvinismo usou de violência cruel no trato com seus irmãos "papistas" (fiéis ao Papa).

Passemos ao Anglicanismo.


3. O Anglicanismo

O rei Henrique VIII em 1534 foi declarado pelo Parlamento, medi­ante o Ato de Supremacia, Chefe da Igreja na Inglaterra. Sob o seu su­cessor, Eduardo VI, foram redigidos 42 artigos, que expressavam a fé reformada anglicana. De 1558 a 1603 reinou a rainha Isabel l, que im­plantou decisivamente o protestantismo de fundo calvinista na Inglaterra, visando à total extinção da Igreja Católica.


3.1. Sob Isabel l: generalidades

Eis o que se lê na citada obra de Bihlmayer-Tuechle, pp. 270s:

«Os 42 artigos de Eduardo VI, reduzidos a 39, foram elevados à categoria de norma confessional (1563) da igreja nacional inglesa; a obri­gação de prestar o juramento de supremacia foi estendida a todos os membros da Câmara Baixa, aos mestres e aos procuradores públicos, enfim, a todas as pessoas suspeitas de adesão à antiga religião, às quais, em caso de recusa repetida, era cominada até a pena de morte. Numa primeira fase, é verdade, foram aplicadas somente penas consistentes na privação dos bens ou da liberdade, ainda que não raro, em medida realmente draconiana. Mais tarde, porém, quando Pio V (1570) fulminou Isabel com a excomunhão e a deposição desvinculando os súditos do juramento de fidelidade, foram emanadas novas e severíssimas leis e posto em atuação o patíbulo. Foi uma época tremendamente dolorosa para os fiéis católicos da Inglaterra, que, amaldiçoados e perseguidos como inimigos do Estado e réus de alta traição, envolvidos na hostilidade suscitada pelo contraste político entre a Espanha e Inglaterra, viram-se oprimidos pela dura crueldade de uma justiça sanguinária. Tiveram que pagar a caro preço as conjuras tramadas contra Isabel e as tramas urdi­das para a libertação da prisioneira Maria Stuart. Não é, pois, para se maravilhar que o seu número fosse continuamente diminuindo.

O perigo ameaçava sobretudo os sacerdotes; quem lhes dava hos­pitalidade era punido com a pena de morte. Para não deixar extinguir-se toda cura pastoral na Inglaterra, foi necessário providenciar à ereção de Institutos no exterior para a formação de padres. Guilherme Allen, cóne­go de Iorque e desde 1587 'cardeal da Inglaterra', fundou em 1568 em Douai um colégio inglês e o papa Gregório XIII erigiu outro em Roma em 1579. Numerosos jovens de ilustres famílias inglesas realizaram nestes colégios os seus estudos teológicos e mais tarde dirigiram-se secretamente como missionários para a Inglaterra, indo não raro ao encontro da morte certa. Uma das mais famosas vítimas da perseguição foi o douto jesuíta Edmundo Campion, ex-aluno de Douai, o qual foi executado com dois companheiros em 1581.

Quando Filipe II da Espanha, para vingar a morte de Maria Stuarí, tentou em vão conquistar a Inglaterra com a sua Armada, a perseguição encarniçou-se mais ainda; mais de cem pessoas caíram vítimas dela. Globalmente sofreram a morte pela sua fé 124 sacerdotes e 61 leigos. Numerosos fiéis de ambos os sexos definharam por longos anos em hor­ríveis masmorras. Aqueles que se abstinham do culto anglicano, 'os recusantes', foram colhidos por enormes penas pecuniárias. Sob o regi­me de coação religiosa da igreja nacional anglicana tiveram que sofrer não só os católicos, mas também os puritanos e os presbiterianos, os quais se opunham também ao ato de uniformidade (não conformistas, dissenters)».


3.2. Particularidades


1) Recusa do juramento

Quem recusasse prestar o juramento de supremacia, era punido como réu de alta traição; era colocado sobre uma grade e assim arrasta­do até o lugar do suplício; aí era estendido sobre um cepo; abriam-lhe o ventre, recortavam-lhe as entranhas em ritmo lento de modo a prolongar a agonia; a seguir, arrancavam-lhe o coração e o corpo era esquartejado, ficando as diversas partes expostas ao público. Em alguns casos o sen­so humanitário deixava que a morte ocorresse antes da operação final; mais frequentemente os mártires eram recortados ao vivo.

Em 1535 um monge cartuxo foi condenado a tal suplício juntamen­te com alguns companheiros; enquanto o monge era executado, os com­panheiros, aguardando sua vez, pregavam o Evangelho para quem esta­va assistindo.


2) São João Fisher

O cardeal John Fisher, quase octogenário, ficou por um ano encar­cerado na Torre de Londres. Foi condenado à morte por ter dito, em con­versa particular, que o rei não tinha autoridade sobre a Igreja. Por ser Cardeal, Henrique VIII lhe concedeu a graça de ser simplesmente deca­pitado sem outra pena. Em 1535 na manhã do suplício J. Fisher fez ques­tão de um asseio esmerado; provocou a surpresa do seu servidor, ao que respondeu o condenado: "Não vês que este é o meu dia de núpcias?". Ao partir para o suplício, leu dois versículos do Novo Testamento e rezou. Subiu com as próprias pernas até o patíbulo. Segundo o antigo costume, o carrasco se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdão, respondeu-lhe o Cardeal: "Eu te perdoo de todo o coração; tu me verás sair vitorioso deste mundo". Dirigiu-se à multidão que assistia, em tom de despedida; rezou ainda longamente e entregou a cabeça ao carrasco. Após a morte, esta foi exposta sobre a ponte de Londres. O corpo permaneceu no lugar do patíbulo, até que viessem soldados que o levaram, cavaram uma fossa e lá o depositaram.

Tomás Moro, Primeiro-Ministro do rei, teve morte semelhante em 1535.

Mais uma vez a história evidencia que os irmãos separados "inqui­riram" e maltrataram os fiéis católicos. Cometeram também eles o que acusam a Igreja de ter feito.

Além de Bihlmayer-Tuechle, foi utilizado, na confecção deste arti­go, o Dictionnaire Apologetique de Ia Foi Catholique, organizado por A. d'Alès, verbetes Reforme e Martyre.


APÊNDICE


A fim de possibilitar uma visão mais objetiva e fiel à realidade, vão, a seguir, propostos alguns aspectos da Inquisição católica geralmente silenciados pêlos manualistas.


1. O Inquisidor

Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a julgá-lo através das categorias de pensamento modernas, exigindo dos antigos o que eles não sabiam nem podiam dar; não levam em conta os textos que exprimem o ardente amor pela verdade, pela justiça e pelo bem que animava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famo­sos Inquisidores no século XIV (1308-1328):

"O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verda­de religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem â indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavia não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser in­sensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamen­tos e abrandamentos das penas conforme as circunstâncias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável, frequentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a cru­eldade" (Prática Vi p... ed. Douis 232s).

Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. - em seu Directorium (Parte III, ques­tão 1§, De conditione inquisitoris).

Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a auto­ridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os proce­dimentos da Inquisição:

- garantias de idade: o Papa Clemente V, no Concílio de Viena (1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispôs que ninguém pudesse exercer as funções de Inquisidor antes dos 40 anos;

- garantias de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV (1262), Clemente IV (1265), Gregório X (1275), Nicolau IV (1290) insisti­ram nas qualidades morais, na honestidade e na pureza de costumes a ser exigidas dos Inquisidores;

- garantias de saber: também se declarava indispensável ao Inquisidor um bom conhecimento de Teologia e Direito Canónico.

A maneira como procediam os juizes era continuamente acompa­nhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Média. Mais de uma vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Clemen­te V, no Concílio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o Inquisidor que se aproveitasse das suas funções para fazer lucros ilícitos ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério, era sem demora de­posto do cargo, fosse pêlos Superiores de sua Ordem, fosse pêlos lega­dos papais, fosse diretamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrigados, em consciência, a comunicar ao Papa todos os desmandos cometidos pêlos Inquisidores; o mesmo dever tocava aos notários e demais oficiais de justiça que acompanhavam o Inquisidor.


2. As penas e seu abrandamento

1. No tocante às penas infligidas a hereges e bruxas, não existe a documentação desejável, pois o registro de fatos outrora se fazia mais dificilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance alguns espécimens dos séculos XIII e XIV; assim, por exemplo:

De 1249 a 1258 em Carcassonne (França) a Inquisição proferiu 278 sentenças; a pena de prisão é relativamente rara; a mais frequente é a que manda prestar serviço na Terra Santa.

De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severida­de as suas funções: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sen­tenças assim distribuídas:

* Imposição da cruz: 132 vezes

* Peregrinação: 9 vezes

* Serviço na Terra Santa: 143 vezes

* Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes

* Entrega ao braço secular (pena de morte): 42 vezes

* Absolvição de defuntos: 3 vezes

* Exumação: 9 vezes

* Sentenças contra contumazes: 40 vezes

* Exposição no pelourinho: 2 vezes

* Degradação: 2 vezes

* Exílio: 1 vez

* Destruição da casa: 22 vezes

* Queima do Talmud: 1 vez

* Absolvição de prisioneiro: 139 vezes

Esta lista mostra que a entrega ao braço secular ou a pena de morte era relativamente rara.

De 1318 a 1324 em Pamiers (França), a Inquisição julgou 98 acu­sados: 5 foram entregues ao braço secular; 35 condenados ao cárcere; 2 absolvidos; a respeito dos demais nada consta; terão sido absolvidos?... exilados?... enviados para a Terra Santa? Como quer que seja, de 98 consta que apenas cinco sofreram a condenação capital.

2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam go­zar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena. Podiam também usufruir de licença para sair do cárcere e ir tirar férias em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o bispo deu a uma mulher chamada Alazais Sicrela permissão para sair do cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (1 - de novem­bro), ou seja, durante sete semanas. Licença semelhante foi dada por cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendu, na ocasião de Pentecostes (9/05/1251). Raimundo Volguir de VilIar-en-Val obteve uma licença que expirava no dia 20/05/1251, mas que lhe foi prorrogada até o dia 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan, que, encarcerada, obteve licença para férias de 15/06 a 15/08 de 1251.

Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para trata­mento de saúde por quanto tempo fosse necessário. São numerosos os casos de que se tem notícia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond, de Conques, obteve a autorização para deixar a sua cela propter infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissão era dada a Bernard Mourgues de ViHarzel-en-Razès, com a condição de que voltasse oito dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessão era feita a Armand Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/ 1252 Bernard Borrei foi posto em liberdade propter infirmitatem, deven­do voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine, filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa da sua doença)... A repetição de tais casos a intervalos breves, e às ve­zes no mesmo dia, mostra que não se tratava de exceções, mas de uma rotina bem definida.

3. Também havia autorização aos presos para ir cuidar de seus familiares em casa. Às vezes os problemas de família levavam os Inquisidores a comutar a pena de prisão por outra que permitisse atendi­mento à família. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sabe-se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou à prisão perpétua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas, na própria sentença condenatória, observava que, o pai do réu sendo um bom católico, ancião e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto este vivesse, afim de lhe dispensar tratamento.

4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abran­dadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montreal obteve a troca da prisão por uma peregrinação à Terra Santa. Aos 27/06/1256 um réu que devia peregrinar à Terra Santa, recebeu em troca outra pena: pagaria 50 soldos de multa, pois não podia viajar propter senectutem (por causa da idade anciã). São conhecidos também os casos de indulto total: o Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabi­litou um condenado para que pudesse exercer funções públicas; a um filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar o consulado e exercer funções públicas.

5. A história também registra o fato de que os Inquisidores estavam atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusações. Conta-se, por exem­plo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabelião de Tarscon, numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabelião e atraía a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele, acusou-o de heresia perante a Inquisição, apoiado no falso testemunho de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadãos, comprova-damente tidos como falsários, foram condenados, e Guillem Trom reco­nhecido como inocente.

6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma elevação de espírito e a mesma retidão de consciência. Alguns se mos­traram obcecados na repressão à heresia, procedendo cruelmente. Os historiadores registram tais abusos, mas não costumam registrar as cen­suras que a Santa Sé infligiu aos oficiais imoderados ou indignos, sem­pre que ela teve notícia dos fatos; aliás, não somente ela, mas também os legados papais e os bispos se insurgiram contra os excessos dos Inquisidores; não eram raras as admoestações à prudência e à brandura emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientação dos Inquisidores; estes deviam proceder com pureza de intenção (superando paixões, pressões e preconceitos) e com a virtude da discrição.


Consta também que os Papas mais de uma vez deram ordens aos Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocêncio IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadão de Pamiers; aos 247 12/1248 mandou soltar os hereges cuja punição lhe parecia suficiente; aos 5/08/1249, encarregou o bispo de Albi de restituir à comunhão da Igreja Jean Fenessa de Albi e sua esposa Arsinde, condenados pelo Inquisidor Ferrier.


Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, por seus rigores, a revolta da opinião pública: os habitantes de Carcassonne, Albi e Cordes dirigiram-se à Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Cle­mente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de Ia Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na região; enquanto este se processava e as prisões eram inspecionadas, estava suspensa toda perseguição de hereges. Os dois prelados inicia­ram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; en­contraram aí quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros; estes foram logo substituídos por outros mais humanitários; aos detidos foram assinaladas celas recém-reformadas e foi permitido passear per carrerias muri largi ou em espaço mais amplo; os guardas receberam a ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou por seus amigos para a sua manutenção. Os dois Cardeais visitaram outrossim os cárceres de Albi aos 4/05/1306; mandaram retirar as cor­rentes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, man­daram melhorar as condições sanitárias das prisões, abrindo janelas para a penetração da luz e do ar.

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Nota:


[1] A reviravolta religiosa de Lutero suscitou em alguns setores a contestação do dogma trínitário: assim fizeram os anabatistas e certos livres pensadores, entre os quais o médico espanhol Miguel Servet, que professava um panteísmo neoplatônico e aspi­rava à superação da doutrina protestante sobre a justificação (Nota do editor).

Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).

Para citar este artigo:

BETTENCOURT, d Estêvão. Apostolado Veritatis Splendor: A INQUISIÇÃO PROTESTANTE. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5120

2ª Parte – Artigo do Veritatis Splendor

Por Fátima Apologética

Tradução: Carlos Martins Nabeto

Fonte: http://www.fatima-apologetica.org/

Um ponto normalmente omitido é que os Protestantes também empreenderam uma Inquisição totalmente submissa ao Poder Político da época. Os historiadores geralmente se referem apenas à inquisição católica e se silenciam hipocritamente sobre os eventos ocorridos nos territórios protestantes.


Os primeiros protestantes não eram distingüidos por serem os "campeões da liberdade de opinião" como querem nos fazer crer. Eles, que clamavam pela liberdade religiosa nos países católicos, em seus territórios suspendiam rapidamente a celebração da Missa e obrigavam os cidadãos, por lei, a assistir obrigatoriamente os cultos reformados; também destruíam os templos católicos e as imagens [sagradas], além de assassinarem bispos, sacerdotes e religiosos; foram muito mais radicais em seus territórios do que ocorreu nos territórios católicos.


Citaremos apenas alguns exemplos (já que [quase] todas as fontes pesquisadas apenas se referem à inquisição católica e nenhuma a [inquisição] protestante):


- Registre-se o massacre dos monges da Abadia de São Bernardo de Brémen, no séc. XVI: os monges foram assassinados ou desfolados, atirando-lhes sal na carne viva, sendo a seguir pendurados no campanário por bandos protestantes.


- Seis monges cartuxos e o bispo de Rochester, na Inglaterra protestante, foram enforcados em 1535.

- Henrique VIII mandou queimar milhares de católicos e anabatistas no séc. XVI (mas foi sua filha católica, Maria, que acabou recebendo o título de "Maria, a sanguinária"!).


- João Servet, o descobridor da circulação do sangue, foi queimado em Genebra, por ordem de Calvino (porém, é comum se recordar apenas do "caso Galileu", o qual NÃO foi justiçado!).


- Quando Henrique VIII iniciou a perseguição protestante contra os católicos, existiam mais de 1.000 (mil) monges dominicanos na Irlanda, dos quais apenas 02 (DOIS) sobreviveram à perseguição.


- Na época da imperadora protestante Isabel, cerca de 800 (oitocentos) católicos eram assassinados por ano.


- O historiador protestante Henry Hallam afirma: "A tortura e a execução dos jesuítas no reinado de Isabel Tudor foram caracterizadas pela selvageria e o dano [físico]".


- Um ato do Parlamento inglês decretou, em 1652, que: "Cada sacerdote romano deve ser pendurado, decapitado e esquartejado; a seguir, deve ser queimado e sua cabeça exposta em um poste em local público".


- Na Alemanha luterana, os anabatistas eram cozidos em sacos e atirados nos rios.

- Na Escócia presbiteriana de John Fox, durante um período de seis anos, foram queimadas mais de 1.000 (mil) mulheres acusadas de feitiçaria.


- Nas cidades conquistadas pelo "Protestantismo", os católicos tinham que abandoná-las, deixando nelas todas as suas posses ou então converter-se ao Protestantismo; se fossem descobertos celebrando a Missa, eram apenados com a morte.


É um mito a afirmação de que a prática da tortura foi uma arma católica na Inquisição. Janssen, um escritor desse período, cita uma testemunha que afirma:

"O teólogo protestante Meyfart descreve a tortura que ele mesmo presenciou: 'Um espanhol e um italiano foram os que sofreram esta bestialidade e brutalidade. Nos países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a mais de uma hora de tortura. Porém, na Alemanha [protestante] a tortura é mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias (...); outras vezes, até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada (...) Esta é uma história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer".


O mesmo Janssem nos fornece este outro dado:

"Em Augsburgo, na Alemanha, no ano 1528, cerca de 170 anabatistas de ambos os sexos foram aprisionados por ordem do Poder Público. Muitos deles foram queimados vivos; outros foram marcados com ferro em brasa nas bochechas ou suas línguas foram cortadas. [Ainda] em Augsburgo, no dia 18 de janeiro de 1537, o Conselho Municipal publicou um decreto em que se proibia o culto católico e se estabelecia o prazo de 8 dias para que os católicos abandonassem a cidade; ao término desse prazo, soldados passaram a perseguir os que não aceitaram a nova fé. Igrejas e mosteiros foram profanados, derrubando-lhes as imagens e os altares; o patrimônio artístico-cultural foi saqueado, queimado e destruído".

Frankfurt, também na Alemanha, emitiu uma lei semelhante e a total suspensão do culto católico foi estendida a todos os estados alemães (e depois se tacha a Igreja Católica de intransigente!).


- Em 1530, em seus "Comentários ao Salmo 80", Lutero aconselhava aos governantes que aplicassem a pena de morte a todos os hereges.


- No distrito de Thorgau (Suiça), um missionário zwingliano, liderando um bando protestante, saqueou, massacrou e destruiu o mosteiro local, inclusive a sua biblioteca e o acervo artístico-cultural.


- Erasmo [de Roterdan] ficou aterrorizado ao ver fiéis piedosos excitados por seus pregadores protestantes: "[Eles] saem da igreja como possessos [do demônio], com a ira e a raiva pintadas no rosto, como guerreiros animados por um general". O mesmo Erasmo comenta em uma carta que escreveu para Pirkheimer: "Os ferreiros e operários arrancaram as pinturas das igrejas e lançaram insultos contra as imagens dos santos e até mesmo contra o crucifixo (...) Não restou nenhuma imagem nas igrejas nem nos mosteiros (...) Tudo o que podia ser queimado foi lançado ao fogo e o restante foi reduzido a cacos. Nada se salvou".


Assim, o Protestantismo destruiu parte do patrimônio cultural europeu, que era protegido e aumentado pelos monges e fiéis católicos.


- Na Zurique protestante, foi ordenada a retirada de todas as imagens religiosas, relíquias e enfeites das igrejas; até mesmo os órgãos foram supressos. A catedral ficou vazia como continua até hoje. Os católicos foram proibidos de ocupar cargos públicos; a assistência à Missa era castigada com uma multa na primeira vez e com penas mais severas nas reincidências.


- Em Leifein, no dia 4 de abril de 1525, 3.000 camponeses liderados por um ex-sacerdote [católico] tomaram a cidade, saquearam a igreja, assassinaram os católicos e realizaram sacrilégios sobre o altar, profanando os sacramentos de uma forma inenarrável.


- Um fato que pareceria nunca ter ocorrido - se não tivesse sido tão bem documentado - foi o "Saque de Roma". Até mesmo muitos católicos não sabem que tal fato aconteceu. O que foi o Saque de Roma?


O Saque de Roma foi um dos episódios mais sangrentos do Renascimento. No dia 6 de maio de 1527, os membros das legiões luteranas do exército imperial de Carlos V promoveram um levante e tomaram de assalto a cidade de Roma. Cerca de 18.000 lansquenetes foram lançadas durante semanas contra a pior das repressões, ocasionando um rio de sangue costumeiramente "esquecido" pelos historiadores, que não lhe prestam a devida atenção. Um texto veneziano [contemporâneo] afirma sobre este saque que: "o inferno não é nada quando comparado com a visão da Roma atual". Os soldados luteranos nomearam Lutero "papa de Roma".


Eis mais alguns fatos [desse episódio] que a história de alguns "eruditos" se omite covardemente:

- Todos os doentes do Hospital do Espírito Santo foram massacrados em seus leitos.


- Dos 55.000 habitantes de Roma, sobreviveram apenas 19.000.


- O resgate foi da ordem de 10 milhões de ducados (uma soma astronômica naquela época).


- Os palácios foram destruídos por tiros de canhões com os seus habitantes dentro.


- Os crânios dos Apóstolos São João e Santo André serviram para os jogos [esportivos] das tropas.


- O rio [Tibre] carregou centenas de cadáveres de religiosas, leigas e crianças violentadas (muitas com lanças incrustadas em seu sexo).


- As igrejas, inclusive a Basílica de São Pedro, foram convertidas em estábulos e missas profanas com prostitutas divertiam a soldadesca.


- Gregóribo afirma a respeito: "Alguns soldados embriagados colocaram ornamentos sacerdotais em um asno e obrigaram a um sacerdote a conferir-lhe a comunhão. O pobre sacerdote engoliu a forma e seus algozes o mataram mediante terríveis tormentos".


- Conta o Pe. Mexia: "Depois disso, sem diferenciar o sagrado e o profano, toda a cidade foi roubada e saqueada, inexistindo qualquer casa ou templo que não foi roubado ou algum homem que não foi preso e solto apenas após o resgate".


- Erasmo de Roterdan escreve sobre este episódio: "Roma não era apenas a fortaleza da religião cristã, a sustentadora dos espíritos nobres e o mais sereno refúgio das musas; era também a mãe de todos os povos. Isto porque, para muitos, Roma era a mais querida, a mais doce, a mais benfeitora do que até seus próprios países. Na verdade, o saque de Roma não foi apenas a queda desta cidade, mas também de todo o mundo".


Ninguém fala deste horror brevemente expresso nas linhas acima. Mas basta consultar qualquer livro honesto e transparente sobre a história documentada. O mundo se cala - como se cala ainda perante o assassinato silencioso de milhares de católicos por fundamentalistas muçulmanos, hindus, sikis etc, não excluindo os [assassinatos] ocasionados pelo totalitarismo de [Fidel] Castro, o genocídio de Pol-Pot e a pérfida perseguição [das autoridades da] China.


É [realmente] elegante falar mal da Igreja de Cristo, fundada por Ele mesmo e com dois mil anos de história humana, como se apenas os católicos fossem os geradores das notícias escandalosas, algumas vezes verdadeiras, mas outras vezes simplesmente inexistentes...

Vejamos agora a opinião dos "Grandes Reformadores Protestantes" sobre o emprego da violência:

[Iniciemos, observando que] uma das bases da Reforma Protestante - a [doutrina das] indulgências - foi mal interpretada pelos reformadores ou pelo povo que não tinha formação religiosa (basta fazer um estudo sincero e imparcial).


No ano de 1518, o Santo Padre o Papa Leão X emitiu uma Bula Pontifícia em que esclarecia [a doutrina das] indulgências e o seu uso. Nesta [bula] eram rejeitados muitos dos méritos que atribuíam [às indulgências]. As indulgências NÃO perdoavam os pecados nem as culpas, mas apenas as penitências terrenas que a Igreja (não um governante secular) havia imposto. Quanto a livrar as almas do Purgatório, o poder do Papa se limitava às oraçães em que suplicava a Deus que aplicasse à alma de certo defunto o excedente dos méritos de Cristo e dos Santos ("A Reforma na Alemanha", Will Durant).


De nada adiantou [tal bula], pois a Reforma seguiu o seu curso. A maneira de pensar dos Reformadores foi extremamente violenta e, muitas vezes, uma [verdadeira] apologia ao crime.

Com efeito, em 1520, vemos Lutero escrever em sua "Epitome":


"Se Roma assim crê e ensina, conforme os papas e cardeais, francamente declaro que o verdadeiro anticristo encontra-se entronizado no templo de Deus e governa em Roma (a empurpurada Babilônia), sendo a Cúria a sinagoga de Satanás (...) Se a fúria dos romanistas não cessar, não restará outro remédio senão os imperadores, reis e príncipes reunidos com forças e armas atacarem a essa praga mundial, resolvendo o assunto não mais com palavras, mas com a espada (...) Se castigamos os ladrões com a forca, os assaltantes com a espada, OS HEREGES COM A FOGUEIRA, por que não atacamos com armas, com maior razão, a esses mestres da perdição, a esses cardeais, a esses papas, a todo esse ápice da Sodoma romana, que tem perpetuamente corrompido a Igreja de Deus, lavando assim as nossas mãos em seu sangue?"


Em um folheto intitulado "Contra a Falsamente Chamada Ordem Espiritual do Papa e dos Bispos", de julho de 1522, disse:

"Seria melhor que se assassinassem todos os bispos e se arrasassem todas as fundações e claustros para que não se destruísse uma só alma, para não falar já de todas as almas perdidas para salvar os seus indignos fraudadores e idólatras. Que utilidade tem os que assim vivem na luxúria, alimentando-se com o suor e o sangue dos demais?"


Em seu folheto "Contra a Horda dos Camponeses que Roubam e Assassinam", Lutero dizia aos príncipes:

"Empunhai rapidamente a espada, pois um príncipe ou senhor deve lembrar neste caso que é ministro de Deus e servidor da Sua ira (Romanos 13) e que recebeu a espada para empregá-la contra tais homens (...) Se pode castigar e não o faz - mesmo que o castigo consista em tirar a vida e derramar sangue - é culpável de todos os assassinatos e todo o mal que esses homens cometerem".

Em julho de 1525, Lutero escrevia em sua "Carta Aberta sobre o Livro contra os Camponeses":

"Se acreditam que esta resposta é demasiadamente dura e que seu único fim e fazer-vos calar pela violência, respondo que isto é verdade. Um rebelde não merece ser contestado pela razão porque não a aceita. Aquele que não quer escutar a Palavra de Deus, que lhe fala com bondade, deve ouvir o algoz quando este chega com o seu machado (...) Não quero ouvir nem saber nada sobre misericórdia".


Sobre os judeus, assim dizia em suas famosas "Cartas sobre a Mesa":


"Quem puder que atire-lhes enxofre e alcatrão; se alguém puder lançá-los no fogo do inferno, tanto que melhor (...) E isto deve ser feito em honra de Nosso Senhor e do Cristianismo. Sejam suas casas despedaçadas e destruídas (...) Sejam-lhes confiscados seus livros de orações e talmudes, bem como toda a sua Bíblia. Proíba-se seus rabinos de ensinar, sob pena de morte, de agora em diante. E se tudo isso for pouco, que sejam expulsos do país como cães raivosos".


E a Igreja Católica é que é acusada de antisemitismo, classificando-se de "frouxas" as palavras de perdão do Papa [João Paulo II] em 2002... Algum representante da igreja luterana já pediu perdão aos judeus?


Willibald Pirkheimer afirmou, em 1529, sobre a Reforma:


“Não nego que no princípio todas as atitudes de Lutero não pareciam ser vãs, pois a nenhum homem comprazia todos aqueles erros e imposturas que foram graduamente acumulados no Cristianismo. Por isso eu esperava, junto com outros, que era possível aplicar algum remédio a tão grandes males; porém, fui cruelmente enganado, pois antes que se extirpassem os erros anteriores foram introduzidos muitos outros, mais intoleráveis que, comparados com os outros, faziam estes parecer jogos de crianças (...) As coisas chegaram a tal ponto que os defensores papistas parecem virtuosos quando comparados com os evangélicos (...) Lutero, com sua língua despudorada e incontrolável, deve ter enlouquecido ou ser inspirado por algum espírito maligno".


[Passemos agora para o] pensamento e a obra de outros pais da Reforma. Calvino também não foi um exemplo de caridade, como vemos em [sua Carta ao Duque de Somerset, protetor da Inglaterra durante a minoridade de Eduardo VI]:


"Pessoas que persistem nas superstições do anticristo romano (...) devem ser reprimidas pela espada [que lhe foi confiada]".


Em 1547, James Gruet se atreveu a publicar uma nota criticando Calvino e foi preso, torturado no potro duas vezes por dia durante um mês e, finalmente, sentenciado à morte por blasfêmia; seus pés foram pregados a uma estaca e sua cabeça foi cortada.


Os irmãos Comparet, em 1555, foram acusados de libertinagem e executados e esquartejados; seus restos mortais foram exibidos em diferentes partes de Genebra.


Melanchton, o teólogo da Reforma [luterana], aceitou ser o presidente da inquisição protestante que perseguiu os anabatistas. Como justificativa, disse: "Por que precisamos ter mais piedade com essas pessoas do que Deus?", convencido de que os anabatistas arderiam [no fogo] do inferno...


A inquisição luterana foi implantada com sede na Saxônia, com Melanchton como presidente. No final de 1530, apresentou um documento em que defendia o direito de repressão à espada contra os anabatistas; e Lutero acrescentou de próprio punho uma nota em que dizia: "Isto é de meu agrado".


Zwínglio, em 1525, começou a perseguir os anabatistas de Zurique. As penas iam desde o afogamento no lago ou em rios até a fogueira.

John Knox, pai do presbiteranismo, mandou queimar na fogueira cerca de 1.000 mulheres acusadas de bruxaria na Escócia.

Acerca da Reforma [Protestante], disse Rosseau:

"A Reforma foi intolerante desde o seu berço e os seus autores são contados entre os grandes repressores da Humanidade".

Em sua obra "Filosofia Positiva", escreveu:

"A intolerância do Protestantismo certamente não foi menor do que a do Catolicismo e, com certeza, mais reprovável".

A violência não foi exercida apenas contra os católicos; na verdade, os reformadores foram enormemente violentos entre eles mesmos, como percebemos nas opiniões que emitiram entre si:


- Lutero diz: "Ecolampaio, Calvino e outros hereges semelhantes possuem demônios sobre demônios, têm corações corrompidos e bocas mentirosas".

- Por ocasião da morte de Zwínglio (1531), Lutero afirmou: "Que bom que Zwínglio morreu em campo de batalha! A que classe de triunfo e a que bem Deus conduziu os seus negócios!", e também: "Zwínglio está morto e condenado por ser ladrão, rebelde e levar outros a seguir os seus erros".


- Zwínglio não ficou atrás e dizia acerca de Lutero: "O demônio apoderou-se de Lutero de tal modo que até nos faz crer que o possui por completo. Quando é visto entre os seus seguidores, parece realmente que uma legião [de demônios] o possui".

[A inquisição evangélica] suspendeu sistematicamente o Catolicismo nas áreas protestantes.

- Em Zurique, na Suiça, o comparecimento aos sermões católicos implicava em penas e castigos físicos. Mesmo fora do perímetro da cidade, era proibido aos sacerdotes celebrar a Missa e, sob a ordem de "severas penas", era proibido ao povo possuir imagens e quadros religiosos em suas casas.

- Ainda em Zurique, a Missa foi prescrita em 1525. A isto, seguiu-se a queima dos mosteiros e a destruição em massa dos templos [católicos]. Os bispos de Constança, Basiléia, Lausana e Genebra foram obrigados a abandonar suas cidades e o território. Um observador contemporâneo, Willian Farel, escreveu: "Ao sermão de João Calvino na antiga igreja de São Pedro seguiu-se desordens em que se destruíram imagens, quadros e tesouros antigos das igrejas" (ou seja: novamente uma parte do patrimônio histórico-cultural da Europa foi destruído, desta vez por instigação direta ou indireta de João Calvino).

- Strasburgo, 1529: o Conselho da Cidade ordenou a destruição dos altares, imagens e cruzes, além das igrejas e conventos. O mesmo ocorreu em Franckfurt. Na convenção de Hamburgo, em abril de 1535, os concílios dos povos de Lubeck, Brémen, Hamburgo, Luneburgo, Stralsund, Rostock e Wismar decidiram pelo enforcamento dos anabatistas e açoitamento dos católicos e zwinglianos.

- Na Escócia, John Knox, pai do presbiterianismo, proibiu a Missa sob pena de confisco de bens e açoites públicos. Ocorrendo a reincidência, a pena capital era aplicada ao infrator.

Poderíamos continuar falando, pois há muito material a respeito, porém, cremos que bastam estes exemplos para demonstrar que a Reforma Protestante não foi pacifista, nem foram os reformadores vítimas inocentes. A intolerância e a violência foram parte integrante de suas vidas. (...)

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Para citar este artigo:

APOLOGÉTICA, Fátima. Apostolado Veritatis Splendor: A INQUISIÇÃO PROTESTANTE. Disponível em:

Fonte: Veritais Splendor